Entretanto, sabe-se que anoitece e os olhos melódicos brilham no escuro como esferas pintadas de Outono. O quarto apodrece e o saxofone toca baixo para as plantas brotarem das paredes cinzentas que restam para nos proteger do mundo lá fora. Se eu pudesse descrever este quarto, em prosa, descreveria um coração, com aurículas e ventrículos que me albergam na forma estéril de um colchão e tapetes parecendo artérias que se arrastam e me arrastam vida fora num bater mecânico e compassado inventado pelo Coltrane. E se o coração apodrece, apodreço dentro dele como um feto numa mãe assassinada por três dólares.
Não sei até onde ir, assim, nua, quase primata, nesta despreocupação propositada de me tornar confortável: Tenho pêlos, ando curvada, não me pinto, não me penteio e procuro perder um nome já quase gasto em contos pós-modernos de autores mortos pela inquisição. Sou então uma religião perdida no espaço e reinventada pelo homem, ao sábado, quando as igrejas fecham e as flores nos cemitérios sucumbem ao vento aclamando um ciclone multicolor.
Quando, à noite, me deito ao lado de um homem e ele se desintegra, fecho-o no abat-jour do candeeiro da sala, junto dos outros, e sento-me no chão, de epiderme salgada a ouvi-lo ressonar, em uníssono com a Terra e, consequentemente, com o mundo lá fora.
Às vezes sonho que o meu coração serve de quarto a alguém.
Não sei até onde ir, assim, nua, quase primata, nesta despreocupação propositada de me tornar confortável: Tenho pêlos, ando curvada, não me pinto, não me penteio e procuro perder um nome já quase gasto em contos pós-modernos de autores mortos pela inquisição. Sou então uma religião perdida no espaço e reinventada pelo homem, ao sábado, quando as igrejas fecham e as flores nos cemitérios sucumbem ao vento aclamando um ciclone multicolor.
Quando, à noite, me deito ao lado de um homem e ele se desintegra, fecho-o no abat-jour do candeeiro da sala, junto dos outros, e sento-me no chão, de epiderme salgada a ouvi-lo ressonar, em uníssono com a Terra e, consequentemente, com o mundo lá fora.
Às vezes sonho que o meu coração serve de quarto a alguém.
4 comments:
Se algum dia deixares de escrever fico-te a dever uma sova. Ou, se preferires nesses termos, um enxerto de porrada.
Wow... Como disse ao Groze, tb não gosto de me exprimir em opiniões complicadas, fundamentadas em inúmeras referências e exemplos perfeitamente dispensáveis :P
Por isso basta-me dizer que gostei muito deste texto, muito das imagens que ele cria, tão simples como a "epiderme salgada".
para quando um próximo?
Go Ahead!
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