Wednesday 4 November 2009

ordinal: 2º

Mantenho-me existente neste pensamento de quanto de ti me é,agora, Amor e concluo que poderás não ser mais que uma orquídea perdida no fumo céptico das florestas Amazónicas. Uma daquelas que nunca ninguém encontrou, que nunca ninguém desenhou e, ainda assim é uma parte da nossa respiração e, portanto, o nosso corpo todo que, celularmente nos aproxima da morte cada vez que beijamos. Temo ter beijado demasiado demasiados homens que sorviam no meu âmago com a língua repleta de poros que me tiravam as vísceras e os tornava rosáceos enquanto sorriam um sangue estranho da minha menstruação atrasada. Às vezes pedia-lhes desculpa e não entendia porquê, afinal eram eles que te levavam de mim e te cuspiam para sítios lavando a boca com um azul metileno sinistro. Sorriam para o meu corpo nu e me penetravam heroicamente com um sexo reles e corporal que me adormecia da vida. Adormecias também?
Hoje que me mantenho aqui a abraçar os meus próprios joelhos, acaricio a minha pele torturada de tanto contacto com gente a sério e faltas-me sem que eu me preocupe com isso. Pariste-me e eu fui-te matando numa inconsciência quase deliberada de te furtarem de mim e o que resta de ti em mim é a memória escassa de um corredor cheio de homens imaginários com foices de plástico descartável a decapitar o meu gato a sério que me morreu, por tua causa, tantas vezes em sonho. Os teus amantes eram maus, mãe, e para além disso ainda me restam medos esquisitos que me toquem nos seios por causa deles que, tantas vezes me falaram em italiano enquanto te despiam com os olhos e te enchiam o corpo de um sangue perfumado que te atraía para os seus joelhos. Não me censures por morrer, portanto. O mundo continua a acontecer todo lá fora: Cá dentro resto eu a morder o joelho direito e a sugar o sangue derradeiro de ti em mim para que circule e entendo que os meus seios crescem circularmente enquanto me brotam protuberâncias renais que me incomodam sem saber de ti nem dos meus amantes quando, subitamente, o pai entra em casa e ajeita a barba do dia anterior e pensa um pouco sobre as flores que nos restam no universo. Ao ver o meu estado pontapeia-me o maxilar e chama-me nomes equídeos, estranhamente recíprocos, que me ensanguentam e me aborrecem por ele não morrer do mundo lá fora, entendes avó? Agora que somos todos simples vítimas do sexo deslavado, que cores restam para filmar uma longa metragem? Vivemos num pequeno cubículo cinzento e assexuado que plantamos de flores que nos lembram familiares antigos que nunca conhecemos e nos amam na cama prolongando as noites com gemidos incompreensíveis. É disto que vai constando a vida que nos resta e entretanto pergunto-me com sinceridade se sou vítima dos olhos negros dos mortos.

2 comments:

aquelabruxa said...

isto é poesia, não me venhas com coisas ;)

groze said...

Este texto não é meu.